Reinventar para existir

Uma das poucas coisa boas que a pandemia de covid-19 revelou foi o poder de adaptação das pessoas: no meio da crise, muitas empresas estão precisando se reinventar para permanecerem relevantes. Para as mais novas, esse processo é ainda mais difícil, porém pode ser extremamente necessário para uma boa ideia não morrer na praia. Esse é o caso da Hi-Lo Club, uma startup de moda criada pela publicitária Rafaella Gomes. Depois de meses de preparação e estratégias, a marca estava pronta para ser lançada em março deste ano, no South by Southwest (SXSW). Com o cancelamento do evento, Rafaella viu suas ideias serem jogadas ao vento, mas mais do que depressa ela traçou uma nova forma de ataque para manter a marca ativa. O serviço de aluguel de roupas personalizadas foi colocado em stand by até junho, mas a empresária mudou o foco para vender produtos de marcas parceiras. Os clientes poderão fazer uma consultoria gratuita de imagem para escolher o melhor modelo para eles. Também será disponibilizado um serviço que usa um algoritmo para a pessoa combinar as roupas que ela já tem, ajudando a tirar a poeira de casacos há muito guardados e até estimulando a doação de peças que não fazem mais sentido estarem no guarda-roupas.

Pivô da restauração

A tática de mudar o foco do negócio não é nova, principalmente dentro do universo das startups. Como essas empresas são baseadas na inovação, é preciso estar preparado para mudanças de curso quando o mercado solicita. Essa situação é tão comum que ganhou o nome de “pivotagem” – curiosamente, um aportuguesamento do verbo inglês “to pivot”, que significa “girar”, mesmo em uma área que adora o uso de palavras estrangeiras. Segundo Itali Collini, diretora da 500 Startups, é impossível ter controle sobre certas situações, como a pandemia de covid-19, mas é totalmente plausível ter domínio sobre o próprio negócio, adaptando quando necessário. Para a startup Festalab, especializada em eventos, a pivotagem foi essencial para manter o negócio ativo. Como as aglomerações estão fora de cogitação, agora a companhia ajuda a organizar eventos online, incluindo convites e confirmação de presença. Por mais que isso não gere receita (que caiu 80%), essa é uma maneira de deixar a marca visível e ativa. O cenário só não está pior porque a empresa recebeu um grande aporte pouco antes da crise. O mercado de eventos deve ser um dos últimos a voltar à normalidade depois que tudo isso passar e está sendo um dos que mais passam por esse processo.

 

Quem sabe agora dão valor

Outro setor bastante afetado foi o das academias. Aos poucos, algumas estão reabrindo suas funções, por mais que isso não seja recomendado. A maior parte da galera, entretanto, continua fazendo exercício em casa, buscando tutoriais na internet. A Gympass, por exemplo, é uma startup que trabalha em parceria com academias de 14 países. Com a pandemia, praticamente todos os estabelecimentos foram fechados, forçando a demissão de 20% dos funcionários mundiais da companhia. Para seguir adiante, a empresa entrou no setor de aulas online, preferencialmente ao vivo e conseguiu o engajamento de mais de 2 mil academias que passaram a preparar os treinos e realizado 50 mil aulas virtuais só no último mês. Essa é uma maneira de manter os clientes fidelizados e, é claro, fazer com que eles se sintam valorizados. Para as próximas semanas, a ideia é lançar um serviço de personal trainer virtual. O presidente-executivo Leandro Caldeira acredita que, após pandemia, as pessoas estarão muito mais propensas a cuidar da saúde. E assim como ele, muitos outros comércios acreditam que as pessoas sairão com outro olhar sobre as atividades que costumavam ignorar.


Fonte: The BRIEF