Porque você tem que se ligar nas grifes indo pro mercado de games
Monte-se quem puder
Há um tempinho contamos no Twitter que um tênis da Gucci, o Virtual 25, estava custando míseros USD 12. E o motivo era simples: ele era 100% digital. Pois é, a ideia é aparentemente fanfarrona, mas está mais forte do que nunca. Vamos às explicações. Lá no mundo dos games existem as famosas skins, que são conjuntos completos de roupas e acessórios para “montar” os personagens. Jogar partidas com uma roupinha diferente há muito tempo faz a alegria dos gamers. E isso acontece não só pela questão visual, mas também por status — afinal, elas remetem a conquistas ou investimento financeiro. A mesma lógica avança para outras plataformas digitais, em especial aquelas com forte apelo na imagem, tipo Instagram, TikTok e Snapchat. Porém, há mais coisas sérias nessa indústria do que parece.
O avesso das brusinhas
Em 2015, ou desde que o mercado de influência estourou, a produção na indústria têxtil cresceu 60%. À medida que essa galera influencia o modo de as pessoas se vestirem, as redes de fast fashion correm para estar à frente das tendências. De lá para cá, já dá para sacar que os impactos ao ecossistema são terríveis. Em 2014, o Brasil já tinha atingido o patamar de 170 mil toneladas desses resíduos. E outra: para a produção de uma simples camiseta são gastos 2,7 mil litros de água. Ou seja: usar uma peça digital sobre sua imagem pode ser uma saída para destacar o visual e, de quebra, diminuir os impactos no meio ambiente.
Provador pixelado
A roupa de pixels é confeccionada e montada em softwares 3D, de modo que possa ser sobreposta a uma imagem. Depois de comprá-la, geralmente no site da fabricante ou loja parceira, o cliente pode enviar uma foto para a inclusão de peças e acessórios. Algumas lojas ainda optam por oferecer um app para esse tipo de manipulação, através de soluções ou experiências de Realidade Aumentada e Realidade Virtual. Os itens podem ser “vestidos” ainda em forma de filtros. Além da exibição online, os looks virtuais servem como um jeito de os clientes experimentarem uma roupa antes de comprá-la na versão física. No games, elas podem ser compradas em lojas integradas para vestir avatares.
Donos das vitrines
Assim como no mundo real, o mercado de roupas digitais tem estimulado uma cadeia de profissões e negócios. Lá na Europa, já existem cursos de moda digital em instituições consagradas, como a London College of Fashion e o Instituto de Moda de Amsterdã. A partir disso, estão surgindo novas profissões, como alfaiates, estilistas, modeladores CGI e designers de moda digital. Existem também empresas e startups especializadas ou que têm se especializado nessa indústria. Esse é o caso da norueguesa Carlings, varejista que bateu recorde de venda de sua coleção virtual; a holandesa The Fabricant — que impressiona pelo ultrarrealismo de suas peças —, além das brasucas Genyz e Studio Acci. Essa última, por exemplo, cria campanhas completas — com modelagem, cenários, texturas e modelos — 100% digitais para clientes que queiram embarcar nessa onda. Por outro lado, marcas de luxo têm usado o espaço para impulsionar novos públicos e exibir suas peças.
LOLzinho sofisticado
Em 2019, a Louis Vuitton fechou uma parceria com a desenvolvedora Riot Games na criação de uma valise para a taça, além de skins exclusivas para o campeonato de League of Legends. Essa foi a primeira campanha da LV no ramo de jogos online. Ela ainda aproveitou a “deixa” para lançar uma coleção cápsula de LOL no mundo real. Neste ano, a Gucci se juntou à North Face, marca estadunidense de roupas de recreação, para criar uma coleção exclusiva no Pokémon GO. Os avatares poderiam aparecer com roupas digitais e acessórios exclusivos, tipo chapéus e mochilas. Na lógica do phydigital — experiência entre o virtual e online —, a loja italiana promoveu a novidade em lugares reais, por exemplo, vestindo um prédio com um colete. Mas esse não foi o maior feito da Gucci no mercado das roupas digitais: no final de maio, uma bolsa da marca exclusivamente virtual foi vendida por 350 mil Robux — na época equivalente a “só” R$ 21,8 mil (!) — no site de jogos Roblox.
Luz na passarela
Experts da moda acreditam que a tendência das roupas digitais veio mesmo para ficar — e muito além do já consolidado mercado gamer e suas skins. No caso, a novidade deve satisfazer influencers, pessoas interessadas em diminuir o consumo de roupas físicas e aquelas que sempre tiveram vontade de usar uma roupa de grife, mas nunca puderam bancar o desejo. Assim, o setor físico da moda deve andar de mãos dadas com o digital daqui para frente. Preparem-se para altos desfiles de avatar…