Está começando uma tendência de trabalho de 4 dias semanais.
Trabalhar de segunda a sexta virou uma cultura enraizada na rotina da maioria das empresas mundo afora através das gerações. Porém, parece que o jogo virou: várias organizações adotaram ou pretendem adotar o formato de trabalho de 4 dias por semana e sem redução salarial.
O fenômeno ganhou um empurrãozinho desde o ano passado, por causa do estouro da digitalização e de ferramentas para o trabalho remoto, tipo Zoom, Slack, Trello etc.
Apesar disso, o conceito vinha sendo desenhado e testado antes mesmo da pandemia. Um belo exemplo é da Microsoft Japão — país famoso por horas exaustivas de trabalho —, que em 2019 colocou suas equipes neste regime durante uma semana.
O resultado foi mara, traduzindo-se em 40% a mais de produtividade e economia para a empresa, tipo o uso de eletricidade caiu 23%, enquanto a impressão de papel diminuiu 59%.
Além disso, cerca de 90% dos participantes do experimento também curtiram a ideia. Apesar dos benefícios, a MS disse que ia estudar a implantação do modelo — depois veio o isolamento social, é bom lembrar.
Testado & aprovado
Nesta semana, o Kickstarter anunciou que a partir de março de 2022 vai trabalhar 4 dias por semana, na escala de 8h/dia. O chefão da empresa de crowdfunding, Aziz Hasan, disse ao Axios que isso faria total sentido desde a mudança de rotina pela pandemia. Isso porque, além de melhorar a produtividade, a empresa pensa em assegurar um equilíbrio melhor entre a vida pessoal e o trabalho dos funcionários.
A Buffer também testou esse estilo de trabalho com 89 colaboradores por um mês em 2020. Diante de resultados positivos, como maior índice de felicidade relatado pelos participantes e aumento de produtividade, a empresa americana de soluções para social media decidiu estender o teste para 2021.
Já a firma de software Elephant Ventures, de Nova York, fez o experimento ao longo de 2 meses no ano passado, mas de um jeito diferente: manteve a escala de 4 dias, porém passou de 8h para 10h trabalhadas/dia.
Nesse caso, a organização disse que, no começo, a galera teve um pouco de dificuldade para assimilar a nova rotina, no entanto, depois de um tempo, preferiu a nova estrutura.
Pensando fora da caixa
Depois disso, a Elephant Ventures viu o negócio crescer, tanto que abriu escritórios na Nova Zelândia e, é claro, ampliou o quadro de colaboradores. Contudo, em entrevista à CNN o CEO da empresa, Art Schectman, alertou que o ideal é que as empresas discutam com os funcionários sobre qual regime adotar.
Para encerrar essa leva de cases, a Unilever e a empresa de marketing alemã Awin também seguiram iniciativas similares. Avaliando transformações originadas na pandemia, vimos grandes companhias optarem pelo modelo flexível (tipo Facebook e Twitter) ou pelo estilo híbrido (Google e Apple).
No entanto, no meio disso, o aumento de produtividade e invasão das atividades profissionais na vida pessoal fez estragos na mente de muitas pessoas.
O Employee Burnout Report, da firma de empregos Indeed, mostrou que 67% de 1,5 mil entrevistados dos EUA sentiram os efeitos da Síndrome de Burnout aumentarem em 2020.
No caso de pessoas que trabalhavam no home office essa impressão foi maior em relação a quem trabalhava em regime convencional: 38% contra 28%.
Sonhar é de graça
Uma pesquisa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro mostrou que já nos primeiros meses da pandemia, os quadros de estresse e ansiedade aumentaram 80%, em uma amostra de 1,4 mil entrevistados de 23 estados do Brasil.
Na década de 1920 — ou quando o regime de 48h/semana era real —, espalhou-se na indústria o descanso nos finais de semana, embora na época muitos patrões tenham sido contra a proposta.
Aliás, Henry Ford era um dos grandes defensores da pausa: na opinião dele, as pessoas voltavam na segunda-feira com as baterias recarregadas, ou melhor, produzindo mais.
Já nos próximos anos, a redução dos dias trabalhados para pelo menos 4 dias promete ser real. Isso porque experts observam que a digitalização, a adoção de novos formatos de trabalho, além da preocupação com o bem-estar dos funcionários diante das altas taxas de estresse levaram as empresas a buscarem essa alternativa.
As organizações que experimentaram a ideia dizem que cortar os dias de atividades deixou os empregados mais focados, ou menos suscetíveis a distrações.
E não pense que isso vem só da iniciativa privada: o governo espanhol passou a apoiar financeiramente empresas locais que optassem pela carga horária de 32h/semana.
Por sua vez, a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Arden, andou sugerindo a adoção do trabalho 4h/por semana no seu país.
Num futuro não muito distante…
Lá em 1929, um estudo do economista John Maynard Keynes previa que a humanidade trabalharia só 15h por semana, devido ao avanço tecnológico.
Existe também a relação de que não só a digitalização, mas a automação deve influenciar/diminuir absurdamente a carga horária no futuro.
Ou seja: ao cortarmos um dia da semana, já estamos nesse caminho, graças às techs.